Ucrânia e Rússia vão assinar acordo sobre cereais, na Turquia

Com a presença de António Guterres

AUcrânia e a Rússia vão assinar esta sexta-feira (22) um acordo que visa aliviar a crise alimentar global, permitindo que os cereais comecem a fluir pelo Mar Negro, avançou esta quinta-feira a Presidência turca.

“A cerimónia de assinatura do acordo de embarque de cereais, na qual estarão presentes o presidente Recep Tayyip Erdogan e o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, será realizada (sexta-feira) com a participação da Ucrânia e da Rússia”, disse o gabinete do líder turco.

O primeiro grande acordo entre os dois lados em conflito desde a invasão russa da Ucrânia, em fevereiro, chega numa altura em que com os preços globais dos alimentos sobem em flecha e alguns dos países mais pobres do mundo enfrentam já cenários de fome.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, deve chegar à Turquia ainda esta quinta-feira para a cerimónia de assinatura no luxuoso Palácio Dolmabahce, em Istambul, no Estreito de Bósforo.

“O acordo de exportação de cereais, extremamente importante para a segurança alimentar global, será assinado em Istambul (sexta-feira) sob os auspícios do presidente (Recep Tayyip) Erdogan e do secretário-geral da ONU”, avançou o porta-voz do líder turco, Ibrahim Kalin.

Até 25 milhões de toneladas de trigo e outros cereais foram bloqueados nos portos ucranianos por navios de guerra russos e minas terrestres que Kiev colocou para evitar um temido ataque anfíbio.

Exigências russas

As primeiras conversas diretas, desde março passado, entre as delegações militares dos lados em conflito – que se realizaram na semana passada em Istambul com com a participação de autoridades turcas e da ONU – resultaram num esboço inicial para resolver o impasse.

As partes deveriam reunir-se novamente esta semana para a possível assinatura de um acordo formal. Mas o presidente russo, Vladimir Putin, ameaçou atrapalhar as negociações ao alertar na terça-feira que qualquer acordo só seria possível se abordasse também as exportações dos cereais russos bloqueadas.

A guerra que dura há cinco meses está a ser travada numa das regiões mais férteis da Europa por dois dos maiores produtores de cereais do mundo. Quase todos os cereais dessa zona do leste europeu geralmente são enviados para fora da região através do Mar Negro.

O ministro das Relações Exteriores da Turquia, Mevlut Cavusoglu, reconheceu na quinta-feira as preocupações de Putin. “Quando resolvermos essa questão, não só será aberto o caminho de exportação de cereais e óleo de girassol da Ucrânia, mas também de produtos da Rússia”, disse.
“Mesmo que esses produtos russos não sejam afetados por sanções, existem bloqueios no transporte marítimo, seguros e sistema bancário”, acrescentou. “Os Estados Unidos e a UE fizeram promessas para levantar esses bloqueios.”

Três portos

A Turquia, membro da NATO, desfrutou de boas relações de trabalho com Moscovo e Kiev durante todo o conflito. Um membro da delegação ucraniana para as negociações disse que os embarques podem ser retomados de três portos sob total controlo ucraniano.

“As exportações ocorreriam através de três portos: Odessa, Pivdennyi e Chornomorsk. Mas no futuro esperamos poder expandi-los”, disse o parlamentar ucraniano Rustem Umerov.

Umerov acrescentou que a segurança dos carregamentos seria supervisionada por um grupo de monitorização da ONU com sede em Istambul. Umerov também disse que os navios russos não deveriam ser autorizados a entrar em águas ucranianas como parte do acordo previsto.

“Não confiamos neles, mesmo que assinem um acordo com a ONU. Este é um país agressor”, disse.