Alemanha joga pela Ucrânia em dois tabuleiros

Chanceler em Berlim e presidente em Kiev estreitam laços com a Ucrânia e prometem mais apoio. Kremlin recetivo a mediação do Papa.

Ochanceler Scholz presidiu à abertura da conferência sobre a reconstrução da Ucrânia, em Berlim, onde defendeu um “novo plano Marshall para o século XXI”, enquanto o chefe de Estado Steinmeier visitava o país invadido pela Rússia e prometia a continuação do apoio a Kiev em todos os níveis.

O chefe do governo alemão disse que a reconstrução da Ucrânia “deve começar agora”, e que será um “desafio para gerações” e ao mesmo tempo uma oportunidade para modernizar as infraestruturas, escolas e hospitais. Olaf Scholz lembrou também que o país deveria ser reconstruído tendo em mente a sua esperada adesão à União Europeia. “O compromisso da UE com a Ucrânia como futuro membro é uma das decisões geopolíticas mais importantes do nosso tempo”, destacou.

Enquanto isso, o presidente estava de visita à Ucrânia, dias depois de ter adiado a viagem, a conselho dos serviços de segurança alemães. Mas o início da visita de Frank-Walter Steinmeier acabou por ter o seu momento fora do programa. Enquanto estava em Koryukivka – numa deslocação plena de simbolismo, uma vez que a pequena cidade no norte do país foi palco de massacres pelos soldados nazis -, soaram os alarmes devido ao lançamento de drones a partir da Bielorrússia e o presidente alemão foi obrigado a recolher-se para um abrigo.

“Isto deu-nos uma sensação particularmente intensa das condições em que se vive aqui”, disse. À chegada a Kiev, Steinmeier prometeu que a Alemanha vai “continuar a apoiar a Ucrânia, económica, política e também militarmente”. O presidente alemão mostrou-se sem ambiguidades do lado de Kiev, depois de há meses ter visto o convite para a visita ter sido retirado em função do seu apoio às relações comerciais com a Rússia, em especial o gasoduto Nord Stream 2. Mais tarde, o social-democrata pediu desculpa.

Na conferência, onde o presidente Zelensky fez um apelo para a comunidade internacional ajudar a cobrir o défice orçamental de 38 mil milhões de dólares, o presidente do Banco Europeu de Investimento Werner Hoyer defendeu o início da reconstrução o quanto antes. Também em Berlim, o primeiro-ministro polaco Mateusz Morawiecki preferiu apelar para a firmeza:

“A política de apaziguar a Rússia está falida e todos os que ainda estão a tentar decretá-la arrastam a Europa”, afirmou. Na véspera, de visita ao Vaticano, o presidente francês pediu a Francisco para servir de intermediário num processo de paz que incluiria o líder russo Vladimir Putin, o patriarca da Igreja Ortodoxa Cirilo e o presidente dos EUA Joe Biden, além do próprio Emmanuel Macron. “Se isto vai realmente no sentido dos esforços para encontrar possíveis soluções, pode ser visto de forma positiva”, comentou o porta-voz do Kremlin Dmitri Peskov.