“Se Portugal fosse vizinho da Rússia, portugueses já teriam sido declarados pelos russos como nazis”

Ucranianos deveriam aprender a valorizar o orgulho nacional, defende presidente da Associação dos Ucranianos em Portugal.

O presidente da Associação dos Ucranianos em Portugal defendeu esta terça-feira, a propósito do Dia da Independência da Ucrânia, que os ucranianos não podem acreditar nas boas intenções da Rússia e deveriam, como os portugueses, valorizar o orgulho nacional.

Num texto enviado à agência Lusa para assinalar os 31 anos da independência da Ucrânia, celebrada a 24 de agosto, Pavlo Sadokha lamenta que muitos dos ucranianos não valorizem o significado da data, “apesar do sacrifício dos nacionalistas ucranianos ao longo da história, que heroicamente lutaram contra potências invasoras e de regimes totalitários”.

Pavlo Sadokha refere que quando chegou a Portugal sentiu “o valor que os portugueses dão aos seus símbolos nacionais, enquanto país livre e independente, com as suas próprias referências políticas”.

“Se Portugal fosse vizinho da Rússia, já os portugueses teriam sido declarados pelos russos como nazis, por este seu orgulho nacional”, vaticina o presidente da associação, contrapondo que é “graças a este sentimento dos portugueses que Portugal é há séculos um país independente”.

Pavlo Sadokha diz, por isso, que “gostaria que os ucranianos aprendessem este espírito português de independência, liberdade e de solidariedade para com os povos oprimidos”.

“Amar o seu país não significa odiar os outros. Amar o seu país significa, acima de tudo, amar e respeitar os símbolos nacionais pois o sentido de identidade nacional é a arma mais poderosa para defender a independência e a liberdade de todo um povo que já morreu, que vive e que haverá de nascer”, defende, no artigo.

Por outro lado, sublinha que toda a história “provou que os ucranianos não podem acreditar na boa-fé ou nas boas intenções russo-soviéticas, pois não é a boa vizinhança que pretendem ou a paz, mas sim a paz debaixo da anexação russa e a eliminação completa da resistência da Ucrânia livre e independente”.

Refere também que durante os 31 anos de independência, a Ucrânia nunca “conseguiu livrar-se da propaganda do Kremlin” e culpa a Rússia por alguns dos “momentos mais negros da história” do país, “com o início do crescimento e domínio dos oligarcas pró-russos e a vaga de corrupção na Ucrânia”.

Na opinião de Pavlo Sadoka, a “tolerância” dos ucranianos em relação à Rússia permitiu que, em diferentes momentos, a população elegesse políticos pró-russos e que, posteriormente tivesse de sair para as ruas em protesto e para defender a escolha de ter uma Ucrânia livre.

“Este grito de liberdade e de independência da Ucrânia fez o inquilino do Kremlin, criminoso de guerra e de hediondos crimes contra a humanidade, Vladimir Vladimirovich Putin perder a paciência por perceber que não conseguia facilmente controlar os ucranianos”, refere, acrescentando que o “plano” de Putin passa pelo “controlo político, económico e militar da Rússia desde Vladivostok até Lisboa”.

O responsável espera, por isso, que em 2022 e depois da “destruição total de dezenas de cidades do leste da Ucrânia, bombardeamentos diários, massacres, dezenas de milhares de mortes de civis, mortes de centenas de crianças, violações de mulheres e homens”, que os ucranianos percebam a importância do Dia da Independência Nacional, da língua, costumes, tradições e história.