Procura por serviços de reforma em sapatos e bolsas de couro registra alta de 60% em Rio Preto

Arrumar aquele par de sapatos esquecido na prateleira ficou mais comum em Rio Preto. Em um cenário de inflação, em que o preço do couro ficou mais salgado, o jeito é consertar aquele sapato, bolsa ou mesmo cinto que está parado em casa. E os sapateiros de Rio Preto comemoram, afinal, com isso o serviço sobe, e muito.

Segundo Ênio Machado da Silva, que atua há 13 anos como sapateiro no bairro Higienópolis, o movimento subiu 60% neste ano. “A minha loja está cheia. Graças a Deus não tenho mais onde colocar sapato para arrumar. Tive que apelar para a caçamba da caminhonete para conseguir guardar tudo e também tem sapato no carro da minha mulher”, afirma o comerciante.

E a relação deste movimento, de maior procura pela restauração, com o mercado é evidente. Segundo o Centro da Indústria de Couro do Brasil (CICB), no primeiro quadrimestre de 2022 o setor totalizou US$ 442,7 milhões em exportações, 0,3% a mais que no mesmo período do ano passado. No entanto, a metragem da área comercializada despencou 20,9% com 49,0 milhões de m². Ou seja, o preço da mercadoria in natura subiu e o reflexo está nas prateleiras das lojas.

“Dada à perda de poder aquisitivo do consumidor, a pessoa procura sempre a reforma. Itens de couro, que são caros, como jaquetas, sapatos, ou até mesmo brinquedos, por exemplo, estão no topo das prioridades. Toda vez que a renda cai, esse tipo de negócio tem um aumento de demanda brutal”, diz o economista Hipólito Martins Filho.

E onde há crise para alguns, há oportunidade para outros, como o empreendedor Valdemir Leandro Filho. Demitido de uma sapataria após 16 anos, decidiu passar a fazer o serviço por conta própria e abriu seu próprio negócio. A procura pelos serviços de ressolagem, tingimento e colagem, por exemplo, foi tamanha, que em apenas nove meses deixou a edícula no fundo de casa para um ponto comercial próprio.

“É tudo novo para mim, mas o sabor (de fazer as coisas para si próprio) é incrível. O que mais vem, hoje, é bota de couro, bolsa, tudo para reformar, fazer salto e hidratar”, afirma o sapateiro. “São produtos que estão em bom estado, que ficaram guardados por dois ou três anos em função da pandemia, mas que precisam de manutenção”, conta.

Custo benefício

Quem manda arrumar também vê benefícios. A administradora Marcela Prado e a mãe, Mara, não deixam a chance de arrumar os sapatos de lado. Nem as bolsas. “Da última vez, mandamos cinco pares para arrumar, mas também usamos muito os serviços para arrumar as alças das bolsas”, diz. O conserto, claro, sai muito mais barato que um sapato novo. Enquanto o reparo fica na casa dos R$ 20 por par, o mesmo modelo pode custar R$ 120.

E até mesmo as festas juninas, quem diria, ajudam os sapateiros. “Como esfriou, agora a gente tem as festas juninas e o pessoal usa muito couro, bota, jaqueta, calça, bolsa, e tudo isso precisa arrumar. Tenho uma fila de espera de pelo menos cinco dias, mas eu já aviso o cliente que pode demorar bem mais”, afirma Ênio.