Papa inicia “peregrinação penitencial” no Canadá para reconciliação

O Papa Francisco inicia hoje uma visita de seis dias ao Canadá, onde irá celebrar uma missa pela reconciliação com os povos indígenas, depois do que sofreram nos internatos católicos neste território durante os séculos XIX e XX.

Acerimónia religiosa, marcada para o dia 28, foi apelidada como uma “peregrinação penitencial” pelos abusos infligidos e vai decorrer no Santuário de Santa Ana de Beaupré, no Quebeque, com a participação especial de comunidades indígenas, refere a Santa Sé na sua página na Internet.

A basílica de Santa Ana de Beaupré é um dos locais de peregrinação mais antigos e populares da América do Norte, que atrai mais de um milhão de pessoas por ano.

A organização estima que a missa conte com a presença de 10 a 15 mil pessoas, dentro e fora da basílica, sendo que 70% dos lugares estão reservados para representantes das comunidades indígenas.

Esta viagem, que será a 37.ª viagem internacional do Papa Francisco e que irá decorrer até dia 30 de julho, passa pelas cidades de Edmonton, Quebeque e Iqaluit — que abriga o maior número de Inuítes, os membros da nação indígena esquimó.

Francisco é o segundo Papa a visitar o Canadá, que recebeu João Paulo II por três vezes: 1984, 1987 e 2002.

Em declarações recentes, o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Matteo Bruni, destacou que esta viagem visa “continuar o caminho de reconciliação empreendido nos últimos meses com os Métis, Inuítes e Primeiras Nações”, povos indígenas afetados na época colonial pelas políticas de assimilação cultural.

Há cerca de uma semana, o pontífice dirigiu-se especificamente aos canadianos.

“Queridas irmãs e irmãos do Canadá, como sabem, irei diante de vocês em nome de Jesus, especialmente para encontrar e abraçar as populações indígenas”, declarou na mesma ocasião.

“Infelizmente, no Canadá, muitos cristãos, incluindo alguns membros de institutos religiosos, contribuíram para a política de assimilação cultural que, no passado, prejudicou seriamente as comunidades nativas de diferentes maneiras”, reconheceu, acrescentando então que esperava que a viagem pudesse “contribuir para o caminho da cura e da reconciliação já empreendido”.

O Papa argentino recebeu, em abril, no Vaticano, alguns membros dessas comunidades, a quem expressou a sua “dor e vergonha pelo papel que vários católicos desempenharam, particularmente os que tinham responsabilidades educacionais”.

Entre o final do século XIX e 1997, os Governos canadianos confiaram a instituições católicas, anglicanas e protestantes a educação de crianças indígenas, que foram retiradas das suas casas sem autorização dos seus pais, tendo sido proibidas de usar os seus nomes, a sua língua e as suas tradições.

Estima-se que, entre 1890 e 1997, cerca de 150.000 crianças indígenas tenham sido internadas à força em centenas de residências escolares e que cerca de 4.000 menores tenham morrido devido às condições insalubres em que viviam.

No ano passado, foram descobertos os restos mortais de 215 crianças, estudantes da Kamloops Indian Residential School, na província de British Columbia, que reviveu a tragédia dos povos originários do Canadá e do seu pedido de justiça.

Um tribunal canadiano autorizou recentemente a venda de dezenas de propriedades da Igreja Católica no Canadá, incluindo mais de uma dúzia de templos, para indemnizar as vítimas de abusos sexuais e físicos cometidos durante décadas por religiosos católicos.

A autorização judicial permite a venda de imóveis em 34 paróquias da ilha de Terra Nova, na costa atlântica canadiana, incluindo a Catedral Basílica de São João Baptista, em São João de Terra Nova.

De acordo com os documentos divulgados pela emissora pública canadiana CBC, a maioria dos imóveis à venda, com um valor estimado de 20 milhões de dólares canadianos (cerca de 15,5 milhões de euros), serão adquiridos por organizações e grupos católicos.

O dinheiro angariado será utilizado para compensar as vítimas do orfanato Mount Cashel, uma instituição em São João de Terra Nova administrada há mais de um século pela congregação dos Irmãos Cristãos.

A viagem ao Canadá será a primeira de Francisco desde que ficou com a saúde mais debilitada e com dores num joelho, situações que levaram à suspensão das visitas ao Sudão do Sul e à República Democrática do Congo.