Israel e EUA acusam especialista de comissão de comentários antissemitas

Israel, Estados Unidos da América e Reino Unido acusaram hoje um especialista de uma comissão de inquérito internacional sobre os atentados aos direitos humanos em territórios palestinianos ocupados e em Israel de comentários antissemitas.

Miloon Kothari foi citado na comunicação social a questionar o direito de Israel ser um Estado-membro das Nações Unidas e de referir-se a um “lóbi judeu”, comentários que suscitaram acusações de longa data de Israel, EUA e de outros países de que o organismo é tendencioso contra Israel, noticia a Associated Press (AP).

Kothari, indiano, é, a par da sul-africana Navi Pillay e do australiano Chris Sidoti, um dos três membros da Comissão de Inquérito sobre os Territórios Palestinianos Ocupados, criada pelo Conselho dos Direitos Humanos no ano passado.

Em resposta, a comissão considerou que os comentários de Kothari foram deliberadamente citados de forma errada.

A comissão, liderada por Pillay, foi criada após a guerra de 11 dias no ano passado entre Israel e o grupo militante Hamas, em Gaza. De acordo com a ONU, os confrontos provocaram a morte de pelo menos 261 pessoas em Gaza e de 14 pessoas em Israel.

As políticas de Israel nos territórios palestinianos são alvo de escrutínio internacional há vários anos. Em 2021, o procurador do Tribunal Penal Internacional (TPI) lançou uma investigação sobre alegados crimes israelitas nos territórios, focando-se nas repetidas operações militares israelitas em Gaza e na expansão de colonatos judeus em Jerusalém Oriental e na Cisjordânia ocupada.

Numa entrevista divulgada na segunda-feira na Mondoweiss, uma plataforma ‘online’ crítica das políticas israelitas sobre os palestinianos, Kothari falou sobre o trabalho e o mandato da comissão, tendo apontado uma falta de cooperação pelo Governo de Israel.

Quando questionado sobre as críticas de alguns governos, o indiano terá dito que está “muito desanimado com as plataformas sociais” que “são controladas em grande parte” por “um lóbi judeu ou organizações não-governamentais”.

“Está a ser atirado muito dinheiro para nos desacreditar”, disse.

Dentro da comissão, Kothari é responsável por analisar as leis humanitárias, dos direitos humanos e penais.

“Nos três aspetos, Israel está em violação sistemática de toda a legislação”, afirmou, tendo acrescentado que iria “ao ponto de perguntar por que é que são um membro das Nações Unidas”.

“O Governo israelita não respeita as suas próprias obrigações como Estado-membro da ONU”, sublinhou.

Por sua vez, a líder da comissão disse numa carta que foi hoje tornada pública que os comentários de Kothari “parecem ter sido tirados do contexto” e que o organismo “considera necessário esclarecer certas questões dada a seriedade das acusações”.

Em resposta, Keren Hajioff, porta-voz do primeiro-ministro israelita, Yair Lapid, considerou que a comunidade internacional deveria ficar “indignada” com os comentários de Kothari, que defendeu serem “racistas”.

Já a embaixadora dos EUA no Conselho dos Direitos Humanos da ONU, Michele Taylor, e a enviada especial do Departamento de Estado para monitorizar e combater o antissemitismo, Deborah Lipstadt, considerou que o preconceito anti-Israel é um “veneno” que afetou o discurso internacional durante demasiado tempo.

O embaixador britânico em Genebra, Simon Manley, disse que os comentários são “inaceitáveis e ofensivos”.