“É difícil apoiar acordos se o armamento pesado continuar a chegar”

O representante da Rússia no Conselho de Segurança das Nações Unidas afirmou hoje que considera difícil a implementação dos Acordos do Mar Negro para o desbloqueio dos portos ucranianos e a saída de cereais, imobilizada há vários meses.

“Édifícil apoiar a plena implementação destes acordos se o armamento pesado continuar a chegar a esses portos”, afirmou o embaixador adjunto da Rússia no Conselho de Segurança, Dmitry Polyanskiy, durante uma nova sessão dedicada à guerra na Ucrânia.

De acordo com Polyanskiy, que não aprofundou as suas acusações, as forças russas irão fazer “tudo o que for possível para destruir esses materiais [o armamento]”, apontando que tal já foi feito a armas enviadas pelos Estados Unidos da América.

“Nada neste memorando nos impede de continuarmos a trabalhar para desmilitarizar a Ucrânia”, sublinhou, citado pela agência noticiosa Efe.

Logo no sábado, um dia depois da assinatura do acordo em Istambul, a Ucrânia denunciou um ataque russo ao porto comercial de Odessa, ponto-chave para a exportação de cereais pelo Mar Negro.

As declarações de Polyanskiy esfriam as expectativas de que as operações de exportação de cereais poderiam ser hoje retomadas, depois de o subsecretário-geral da ONU para os Assuntos Humanitários, Martin Griffiths, que esteve no centro das negociações, ter dito que poderiam começar já hoje.

Para Polyanskiy, os países ocidentais têm feito uma leitura unilateral destes acordos e acusou-os de se preocuparem apenas com a saída de cereais ucranianos enquanto “colocavam todos os obstáculos” à logística e ao pagamento do frete dos produtos russos.

Ainda assim, elogiou a postura das Nações Unidas e do seu secretário-geral, António Guterres, por terem permanecido neutros.

A Ucrânia e a Rússia assinaram na sexta-feira passada acordos separados com a Turquia e a ONU para desbloquear a exportação de cerca de 25 milhões de toneladas de cereais retidos nos portos do Mar Negro devido à guerra em curso.

Numa cerimónia realizada no Palácio Dolmabahçe foram assinados dois documentos – já que a Ucrânia recusou assinar o mesmo papel que a Rússia – devendo o acordo vigorar durante quatro meses, sendo, no entanto, renovável.

O acordo de Istambul inclui dois documentos: um sobre as exportações de cereais da Ucrânia e outro sobre a exportação de produtos agrícolas e fertilizantes russos.

A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que já matou mais de 5.100 civis, segundo a ONU, que alerta para a probabilidade de o número real ser muito maior.

A ofensiva militar russa causou a fuga de mais de 16 milhões de pessoas, das quais mais de 5,9 milhões para fora do país, de acordo com os mais recentes dados da ONU.