Autoridades ucranianas realizam buscas em igrejas ligadas à Rússia

Os serviços de segurança da Ucrânia (SBU) revelaram hoje que adotaram “medidas de contraespionagem” em espaços religiosos ortodoxos dependentes da Igreja Russa para “combater atividades subversivas” a cargo dos interesses russos.

As autoridades ucranianas manifestaram preocupação com 19 mosteiros, catedrais e igrejas pertencentes à Igreja Ortodoxa Ucraniana do Patriarcado de Moscovo.

As medidas visam “combater as atividades subversivas dos serviços secretos russos” na Ucrânia, sublinhou o SBU em comunicado.

Os espaços religiosos encontram-se nas regiões de Transcarpathia, Chernivtsi, Rivne, Volyn, Lviv (oeste), Zhytomyr (centro-oeste), Mykolaiv e Kherson (sul) e Sumy (norte), acrescentou.

Os serviços de segurança ucranianos explicaram que procuram, com estas ações, “proteger a população contra provocações e ataques terroristas”, bem como “impedir o uso de comunidades religiosas como centros do ‘mundo russo'”.

Este conceito foi criado em particular por Moscovo para tentar justificar a invasão russa da Ucrânia, pela necessidade de anexar este país à Rússia com a finalidade de formar um todo ortodoxo e de língua russa.

Agentes do SBU realizaram buscas nestes locais com o objetivo de “identificar pessoas que possam estar envolvidas em atividades ilegais prejudiciais à soberania do Estado da Ucrânia”.

No início de dezembro, o Presidente Volodymyr Zelensky anunciou que queria proibir as atividades no território ucraniano de organizações religiosas afiliadas à Rússia e questionar o estatuto da Igreja Ortodoxa Ucraniana do Patriarcado de Moscovo.

Desde novembro as autoridades ucranianas já realizaram uma série de buscas em vários outros locais de culto desta mesma Igreja.

Nas últimas semanas, a Ucrânia também introduziu sanções contra cerca de quinze dignitários desta Igreja, pelas suas posições a favor de Moscovo, ou por sua colaboração com as forças de ocupação russas.

A Ucrânia, país cuja população é predominantemente ortodoxa, está dividida entre uma Igreja dependente do Patriarcado de Moscovo – que anunciou no final de maio a quebra com a Rússia devido à invasão – e uma Igreja independente da tutela russa.

Criado no final de 2018, este último jurou fidelidade ao Patriarcado Ecuménico de Constantinopla, com sede em Istambul.

A Ucrânia é o centro da Igreja Russa, onde se localizam alguns dos mais importantes mosteiros ortodoxos.

A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 14 milhões de pessoas — 6,5 milhões de deslocados internos e mais de 7,8 milhões para países europeus –, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Neste momento, 17,7 milhões de ucranianos precisam de ajuda humanitária e 9,3 milhões necessitam de ajuda alimentar e alojamento.

A invasão russa — justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia — foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.

A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra 6.755 civis mortos e 10.607 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.